Causos

Traição, canibalismo e pragas: conheça as lendas de Porto Alegre

Histórias que rondam o imaginário popular são, em parte, reais

Açougue da lenda da Rua do Arvoredo, ficava perto da escadaria | Foto: ArquivoPOA

Traição, assassinato, canibalismo, pragas. Esses são alguns dos mistérios que rondam ruas, prédios e até uma igreja de Porto Alegre. A maioria dessas histórias aconteceu no Centro da cidade, em lugares conhecidos dos moradores, e a cada vez que são contadas ganham mais adjetivos e detalhes assustadores. Essas lendas foram contadas na reportagem do #PortoemFesta, da RBS TV (veja o vídeo acima).

Uma mulher de branco que aparece à meia-noite em espelhos de banheiros públicos e uma mulher vestida de vermelho que pega táxi e pede para ir ao cemitério são algumas das lendas urbanas presentes no imaginário dos gaúchos. Uma das histórias mais famosas envolve a Rua Fernando Machado, a antiga Rua do Arvoredo.

Reza a lenda que, por volta do ano de 1863, um açougueiro e sua mulher matavam pessoas para fazer linguiça. Sem saber da verdadeira origem dos produtos, os consumidores faziam fila para comprar a iguaria mais recheada e deliciosa que Porto Alegre já teve.

A fama da região é tão grande que até hoje um açougue antigo da rua recebe olhares desconfiados de algumas pessoas. “Trabalho com açougue há 50 anos e muita gente pensa que foi aqui”, brinca o açougueiro Nelson Borowski.

Em 1833, quase na mesma época da história macabra do açougue, a Igreja da Nossa Senhora das Dores, que também fica no Centro, estava sendo construída. Segundo a lenda, um escravo que foi enforcado no local jogou uma praga sobre a construção. Ele havia sido acusado de roubar a tiara de Nossa Senhora, mas jurou inocência e invocou uma maldição: a igreja nunca ficaria pronta.

“Até hoje a comunidade envolvida com a igreja sente a presença dessa praga. Quando uma obra atrasa aqui, seja no salão paroquial ou na casa do padre, todo mundo fala que o negro Josino anda por aí”, diz Lucas Volpatto, funcionário da igreja.

Uma construção com arquitetura medieval no Centro da cidade também é conhecida por uma lenda urbana. Construído no Alto da Bronze, o famoso Castelinho foi construído para abrigar uma história de amor e prisão. Um político casado se apaixonou perdidamente por uma linda mulher e manteve ela e o filho enclausurados no local. Pelo menos era isso o que a vizinhança comentava na época.

O que muita gente não sabe é que essas três histórias aconteceram de verdade, pelo menos em parte. O casal açougueiro da Rua do Arvoredo realmente existiu. Tem até retrato-falado dos dois. No açougue, foram encontrados corpos de dois adultos e um menino. Como faltavam parte dos corpos, a imaginação não deixou barato e surgiu a lenda que teriam virado linguiça. O caso foi parar na Justiça e o casal foi condenado.

Igreja das Dores demorou cem anos para ser finalizada | Foto: Reprodução/RBS TV

A praga da Igreja das Dores não tem como ser confirmada, mas fato é que a construção realmente levou cem anos para ficar pronta. Assim, as pessoas que culparam o escravo Josiano nunca conseguiram fazer suas preces na igreja.

Quem conta a verdadeira história por trás da lenda sobre o Castelinho do Alto da Bronze é a própria personagem, Nilza Linck. Por quatro anos, ela viveu uma história de amor, ciúmes e prisão que nunca foi esquecida. “Eu ficava lá no castelo. Tinha três andares então eu ia lá para cima e ficava olhando a cidade. Eu gostava de ler então me distraía bastante na biblioteca dele, que era muito boa. Mas tenho um sentimento muito forte comigo, de não ter encontrado um amor”, afirma a aposentada.

A verdade é que as pessoas adoram ouvir essas histórias misteriosas sobre a cidade onde vivem. As lendas urbanas tecnicamente resultam de uma narrativa de caráter maravilhoso que se utiliza de fatos históricos. Na verdade, é a imaginação popular deformando a realidade.

“É aquela história de que quem conta um conto aumenta um ponto. Acho que todo mundo quer ser um pouco autor dessas histórias, que elas tenham um atrativo. As pessoas gostam de ser envolvidas por essas histórias cheias de mistérios”, explica a bibliotecária Julia Agustoni Silva.

Por: G1 RS | Fonte: G1